Catherine Deneuve sempre belíssima e atuando com maestria, com todas as nuances e hesitações sutis que sua personagem requer… Ah, isso já vale o filme! Estamos falando de “Anima Persa”, que ficou conhecido no mundo todo como “O Quarto Proibido”. Pois é. Desde 1977 o pessoal que era bom de marketing já era BOM MESMO: você concorda que ficou curioso pra saber o que é que tinha no tal quarto? Além disso, a outra estrela não menos brilhante desse filme dirigido por Dino Risi é Vittorio Gassman, que ao longo de sua excepcional carreira, foi ator, diretor e roteirista.
Bem, antes de prosseguir, quero dizer que “rotular” as obras de arte/entretenimento não é muito legal, mas, por outro lado, ajuda você, que está lendo este texto, a ver logo de uma vez se o filme interessa ou não. E eu sei que você é uma pessoa ocupada. Então aí vai: “O Quarto Proibido” pode ser categorizado como “thriller psicológico”.
É um filme que mergulha na escuridão do desejo humano, segredos de família e na natureza sufocante de um ambiente administrado por um homem estilo “linha dura”, controlador.
Giallo é outra coisa
Aliás, aqui, um comentário se faz oportuno: “Anima Persa” é frequentemente associado ao gênero italiano conhecido como giallo, mas não é. [Calma que falaremos do giallo e da musa do gênero, Edwige Fenech em breve, o post está em produção]. A comparação não se sustenta porque “Anima” (ou “O quarto proibido”) tem um ritmo mais lento e uma trama com desenvolvimento mais sutil. E sem os elementos explícitos e sensacionalistas típicos de um autêntico giallo.
Claro que nada disso impede que o filme tenha um clima muito, muito esquisito. E fascinante.
Catherine Deneuve aprisionada
O filme se passa em Veneza e acompanha a chegada de Tino (Danilo Mattei), um jovem que deseja ser artista e quer estudar na cidade do mestre renascentista Ticiano. Uma excelente escolha!
Tino é recebido na suntuosa casa de seu tio, Fabio (Gassman), e logo conhece sua esposa, a submissa Elisa (Deneuve).
Aliás, chamar o local de “casa”, mesmo que suntuosa, é eufemismo. É uma mansão. No entanto, um local em decadência, que cria no espectador uma sensação de desconforto desde o início. E o jovem aspirante a pintor logo percebe que há uma atmosfera tensa no ar. A personalidade dominadora de , por exemplo, parece indiferente ao sofrimento silencioso de Elisa. E mais: ruídos estranhos e rumores sobre um “quarto proibido” aumentam o clima perturbador.
Por mais que destaquemos Vittorio Gassman como Fabio, ainda seria pouco para descrever sua intensidade. Ele se torna a personificação de um controle sufocante e faz isso diminuindo e manipulando sua esposa o tempo todo. Seu personagem representa uma expectativa social de domínio masculino e, por consequência, a perversa repressão dos desejos femininos.
Catherine Deneuve, um espetáculo à parte
Catherine Deneuve apresenta uma performance aparentemente contida como Elisa. Em seus olhos, porém, passa toda a emoção da personagem. Eles sugerem uma profunda tristeza e saudade. Essa saudade está no cerne do mistério da mansão decadente. Porém um mistério apenas seria pouco para esse filme inquietante, porque o jovem aprendiz de artista logo começa a desconfiar que seus familiares mantém alguém escondido no sótão da casa.
Uma apreciação atenta da obra revela que a própria mansão em decadência é usada com habilidade para refletir a turbulência emocional que parece prestes a irromper dos personagens. E a excelente trilha sonora de Francis Lai contribui para o clima perturbador do filme.
Risi, conhecido por seus trabalhos anteriores como “Profumo di Donna” (também com Gassman e depois refilmado com Al Pacino), mostra sua habilidade em criar narrativas envolventes e personagens intrigantes. E sua astúcia se estende à subtrama do filme, que envolve a jovem Lucia (Anicée Alvina), uma moça que posa nua para os estudantes da academia de arte e com isso desperta o interesse de Tino. O flerte é inevitável, e o contraponto entre o mundo adulto, que parece cheio de segredos e repressão e o universo juvenil, espontâneo e alegre, ajuda a amenizar o que poderia ter se tornado pesado demais para o público.
Em conclusão, “Anima Persa” (ou “O quarto proibido”) é uma obra recomendada para aqueles que apreciam dramas psicológicos e narrativas surpreendentes. A combinação de atuações marcantes, direção precisa e um enredo intrigante faz deste filme uma joia oculta do cinema ítalo-francês dos anos 70.
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Não conhecia esse filme. Mas qualquer um com a Catherine Deneuve vale a pena.