6 Livros recomendados pelo Papa Francisco

Seis Janelas para a Alma Humana, Segundo o Papa Francisco

Na aurora de uma segunda-feira após a celebração pascal, o mundo testemunhou a partida de Francisco (1936-2025), o primeiro Papa vindo das terras da América Latina. Homem de letras tanto quanto de fé, o pontífice frequentemente partilhava com seus seguidores os faróis que iluminavam sua jornada interior. Recordamos aqui algumas das obras que encontraram eco em seu espírito.

1. “O Senhor do Mundo” – Robert Hugh Benson: A Sombra Profética de um Governo Global

Benson, perspicaz observador das tendências de sua época, urdiu uma narrativa visionária sobre a ascensão insidiosa de um poder mundial totalitário. Sob o manto de uma moralidade fabricada e regras de conduta impostas, as liberdades individuais definham.

Surpreendentemente, o cenário imaginado pelo autor ressoa com inquietante nitidez no alvorecer do século XXI.

Uma conflagração iminente serve de palco para a ascensão de um líder carismático, cuja ambição reside em instaurar uma falsa religião global, um culto ao humanismo que marginaliza e criminaliza qualquer vestígio de uma espiritualidade genuinamente transcendente.

É a sombra do Anticristo que se alonga.

Contudo, um último bastião da tradição ocidental resiste: a Igreja Católica, claudicante mas firme em sua oposição ao avanço do totalitarismo.

Em diálogo sobre as sutilezas da “colonização ideológica”, Francisco ponderou: “É um livro que, naquele tempo, o escritor percebeu esse drama da colonização ideológica e o inscreveu nessas páginas… Recomendo vivamente a sua leitura.”

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2. “Memórias do Subsolo” – Fiódor Dostoiévski: Nas Profundezas da Alma Desterrada

O Papa Francisco nutria profunda admiração por Dostoiévski, confessando especial apreço por sua menos conhecida, porém seminal, “Notas do Subsolo”. Concebida em 1864, enquanto o escritor moscovita velava os últimos dias de sua esposa, esta obra é tida por muitos como o limiar da segunda e mais célebre fase de sua produção literária.

Através da voz de um narrador alienado, aprisionado pelo peso de sua própria insignificância, somos conduzidos à história de uma existência turbulenta.

Com ironia cortante, ele narra sua recusa em integrar a engrenagem produtiva e seu progressivo isolamento da sociedade circundante. Em poucas semanas febris, Dostoiévski esculpiu esta novela pungente, explorando com maestria inigualável os abismos do desespero humano.

Em suas reflexões sobre a literatura que o marcara, o Bispo de Roma declarou seu afeto: “Amo Dostoiévski, mas devo especificar que o meu favorito é ‘Notas do Subsolo’.”

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3. “Poemas e Fragmentos Selecionados” – Friedrich Hölderlin: A Melodia da Alma em Versos

A sensibilidade poética de Hölderlin também encontrou eco no espírito de Francisco. A beleza e a profundidade espiritual de seus versos deixaram uma marca indelével em sua jornada. Em particular, um poema dedicado ao aniversário da avó do autor ressoou profundamente em sua alma.

Recordando a força da poesia, o Papa teria dito: “Adoro Dostoiévski e Hölderlin. Lembro-me de Hölderlin por aquele poema escrito para o aniversário da avó dele, que é muito bonito e foi muito enriquecedor espiritualmente para mim.”

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4. “Os Noivos” – Alessandro Manzoni: A Epopeia da Fé em Tempos de Adversidade

Ambientado na Lombardia sob o jugo espanhol do século XVII, “Os Noivos” tece a saga de Renzo e Lucia, dois humildes camponeses cujo matrimônio é obstaculizado pela prepotência de Dom Rodrigo. Forçados à fuga, os jovens amantes são cruelmente separados, enfrentando a peste, a fome, a prisão e uma galeria de personagens memoráveis – a enigmática Freira de Monza, o impetuoso Padre Cristoforo, o sinistro Inominado – sem jamais perder a fé na Providência.

Fruto de rigorosa pesquisa histórica e linguística, Manzoni pinta um vívido retrato da Itália da época, oferecendo um panorama da diversidade humana.

Sobre a obra que tanto o marcou, Francisco compartilhou uma memória pessoal: “Li ‘Os Noivos’, de Alessandro Manzoni, três vezes, e agora o tenho na minha mesa porque quero relê-lo. Manzoni me ensinou tanto. Quando eu era criança, minha avó me fez decorar o início de ‘Os Noivos’…”

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5. “O Diário de um Pároco de Aldeia” – Georges Bernanos: A Jornada Íntima de um Servo

Aclamado como uma das joias da literatura francesa do século XX, “Diário de um Pároco de Aldeia” nos conduz pela alma e pelo corpo de um jovem sacerdote em sua missão na pequena Ambricourt. Através de suas confissões escritas, Bernanos revela sua relação com a fé, o sacerdócio, a fragilidade física e o confronto com a realidade de sua paróquia, suas dúvidas e seus erros. A obra, que François Mauriac descreveu como possuidora do “magnífico dom de tornar natural o sobrenatural”, oferece um olhar íntimo sobre os conflitos de um homem dedicado ao serviço divino.

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6. “A Divina Comédia” – Dante Alighieri: A Jornada da Alma em Busca da Misericórdia

Em 2015, Francisco proclamou um Ano Jubilar da Misericórdia, um convite à reflexão sobre o perdão e a compaixão divina. Ao inaugurar este período, o pontífice exortou a todos à leitura desta obra fundamental.

Texto inaugural da língua italiana, síntese de uma cosmovisão, monumento poético de rigor e beleza, obra magna da literatura universal, “A Divina Comédia” transcende os superlativos.

Como todo clássico, reserva a cada novo leitor a surpresa revigorante de um renascimento, perpetuando seu impacto geração após geração.

Ao convocar o Ano da Misericórdia, Francisco enfatizou a importância da obra dantesca: Ao iniciar tal ano, o Papa Francisco exortou todos a lerem a história, chamando-a de leitura vital.

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Assim, através destas seis janelas literárias, vislumbramos um pouco da alma de um pastor universal, um homem cuja fé se nutriu tanto da palavra divina quanto da sabedoria inscrita nas páginas da humanidade. Seu legado ressoa não apenas em seus ensinamentos, mas também nas obras que iluminaram seu caminho.

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