O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald

[Cena: Uma livraria antiga no centro da cidade. Prateleiras altas, cheiro de papel envelhecido e madeira encerada. Uma vitrola toca Ella Fitzgerald baixinho ao fundo. Araújo, de boina e paletó, folheia um volume de capa azul-escura quando Zuli Mencordas entra, com um cachecol vermelho e um livro debaixo do braço.]

Zuli:
Araújo! Ainda em sua eterna escavação entre os clássicos? Eu devia ter apostado que o encontraria aqui.

Araújo:
Zuli, seu velho cético de veludo… Veio procurar algum autor maldito ou esqueceu seu Camus no caixa?

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Zuli (rindo):
Desta vez, não. Vim atrás de um novo exemplar de O Grande Gatsby. O meu já gastou — sublinhei tanto que virou palimpsesto. Preciso de um que não me antecipe.

Araújo (erguendo uma sobrancelha):
Gatsby… Sempre me espanta como uma novela tão curta consegue conter tanta ruína. Um romance disfarçado de sonho, ou um sonho que termina como um cadáver à deriva.

Zuli (encostando-se numa estante):
É uma elegia com lantejoulas. Gosto do Gatsby porque ele acredita. De forma trágica, sim, mas acredita. Já Daisy… Ah, Daisy… ela é o vazio com perfume francês.

Araújo:
Um suspiro, como alguém escreveu. A mais leve das ruínas. E Nick? Observador passivo, moralista disfarçado. O Fitzgerald sabia como usar a sombra.

[O vendedor, um rapaz de óculos com expressão atenta, se aproxima.]

Vendedor:
Boa tarde, senhores. Procuram algo específico? Temos alguns títulos guardados no estoque também, se quiserem.

Zuli:
The Great Gatsby, edição nova. De preferência com uma boa tradução ou, se tiver, no original.

Vendedor:
Temos uma edição bilíngue da Penguin. Posso pegar para o senhor?

Zuli:
Por favor. E se achar um Poe que não desmonte em pó, me avise.

[O vendedor se afasta.]

Araújo (olhando uma lombada):
Veja, A Montanha Mágica. Thomas Mann e sua febre metafísica. Nunca consigo decidir se é uma internação ou uma iniciação.

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Zuli:
Ambas, talvez. É como passar sete anos para aprender que o tempo é uma curva interior. E olha ali — Mrs. Dalloway. A Woolf embalsamando um único dia com uma escrita que parece água se dobrando sobre si mesma.

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Araújo:
E logo ao lado, Crime e Castigo. Outro que você sublinhou até virar confissão.

Zuli:
Ah, Dostoiévski… sempre bom lembrar que mesmo o homem mais torto ainda pode dialogar com o Absoluto. E com a febre, claro.

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[O vendedor retorna com o Gatsby em mãos.]

Vendedor:
Aqui está. Papel encorpado, costura firme. Tradução nova, mas não é bilíngue.

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Zuli (pegando o livro com cuidado, como quem recebe um relicário):
Perfeito. Porque há livros que a gente relê até gastar — não por fidelidade, mas porque são feridas que não cicatrizam.

Gatsby é isso: o sonho americano como cicatriz.

Araújo:
Ou como espelho rachado. A cada releitura, ele reflete algo diferente — e cada vez menos confiável.

Zuli (pagando):
Como tudo que é verdadeiramente humano. Bom ver você, Araújo. Vamos marcar um café. Com ou sem Fitzgerald, ainda temos muita ruína para debater.

Araújo (sorrindo com o canto dos lábios):
Com certeza. E traga o livro novo, antes que este também se desfaça nas suas mãos.

[Zuli acena com o livro, caminha até a porta e desaparece na luz da tarde. Araújo permanece mais um tempo na livraria, acariciando os lombos dos livros como quem cumprimenta velhos fantasmas.]

Conheça a obra de

ZULI MENCORDAS

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