(Local: Auditório da Faculdade de Letras. Plateia repleta de estudantes. Na primeira fila, está Zuli Mencordas, escritor; Sabrina, aluna dedicada que quer ser escritora; e Lucas, calouro de 19 anos, muito curioso.) *pode conter spoilers
Professor Araújo (subindo ao palco, ajeitando os óculos):
Boa tarde, meus caros. Hoje falaremos de uma obra que não busca ser amada, mas compreendida.
Um livro seco como o deserto, e por isso mesmo, revelador como o sol a pino. Falo de O Estrangeiro, de Albert Camus, publicado em 1942.
Este romance é um exercício de minimalismo emocional, onde a apatia não é defeito de personagem, mas armadura contra um mundo saturado de significados artificiais. No centro da narrativa está Meursault, homem que não se revolta contra a sociedade porque sequer participa de suas regras.
Ele vive fora do teatro emocional do qual todos somos forçados a participar.
Sua mãe morre? Ele se preocupa com o calor. Uma mulher o ama? Ele aceita casar, desde que isso não dê trabalho. Ele mata um homem? Culpa o sol.
Zuli (ergue a mão): Professor, isso não é quase uma caricatura? Até que ponto Camus quer que a gente leve Meursault a sério?
Professor Araújo: Excelente pergunta. O ponto não é se devemos levar Meursault a sério como “pessoa”, mas como síntese de uma condição filosófica. Ele não é um herói, nem um anti-herói. É uma presença. Camus o constrói com frieza proposital. A própria prosa do livro é seca, direta, sem ornamentos. Isso é uma forma de rebeldia literária: recusar a sedução estilística em nome de uma verdade incômoda.
O livro nos desafia a encontrar significado onde talvez não haja nenhum.
Araújo continua: O romance tem duas partes: antes e depois do crime. Mas a divisão é quase irrelevante, porque Meursault não muda. Ele não evolui, não se arrepende, não se transforma.
Ele observa a própria vida como quem assiste a um documentário sobre um desconhecido. Essa distância é proposital. Camus quer nos colocar nesse lugar de incômodo: e se tudo isso for mesmo vazio?
Lucas (levanta a mão, hesitante): Mas professor… então por que ele é condenado? Foi por matar o homem, ou por outra coisa?
Professor Araújo (sorri): Lucas, você tocou num ponto crucial. Meursault não é condenado pelo crime em si. Ele é condenado porque não chorou no enterro da mãe. A sociedade, mais do que justiça, exige performatividade.
Queremos que os outros sofram como “deveriam” sofrer. Camus nos mostra um tribunal que julga o comportamento emocional, não o ato. Meursault é punido por não mentir, por não fingir sentir. A honestidade dele o isola.
Araújo:
A filosofia por trás do romance é o absurdismo. Para Camus, o mundo é indiferente. Procuramos sentido, mas não há resposta. Não é um chamado ao desespero, e sim à libertação: se não há um plano maior, cada momento é o que temos.
Meursault, ao aceitar a morte, não se apega a ilusões. Ele se reconcilia com o absurdo, e ao fazer isso, se torna livre.
Sabrina (timidamente): Pra quem quer ser escritor… vale a pena escrever assim, sem emocionar? Não corremos o risco de afastar os leitores?
Professor Araújo: Que bela pergunta, Sabrina. E a resposta é: depende do que você quer dizer. Camus mostra que a emoção não precisa ser entregue, mas provocada. Ao negar o pathos tradicional, ele obriga o leitor a lidar com o vácuo. Isso também é uma forma de comunicação poderosa. Não escreva para agradar. Escreva para fazer pensar, ou sentir de forma nova. Camus faz isso. Ele escreve com silêncios. E no silêncio, há ruídos profundos.
Professor Araújo (conclui):
O Estrangeiro é uma aula de contenção. Em um mundo de barulho, ele é um estudo sobre o silêncio. Não oferece consolo. Não nos convida a amar seus personagens, mas a compreendê-los.
Seus personagens são vítimas de um mundo onde o sucesso é superficial e a vida interior é negligenciada. Meursault morre e o mundo segue, indiferente. E é justamente essa indiferença que Camus nos pede para olhar de frente, sem piscar.
Muito obrigado. E agora, podemos conversar mais sobre isso no corredor… com café, espero.
(Aplausos. Zuli se aproxima com um sorriso irônico e uma pergunta sobre Dostoiévski… mas essa é outra história.)
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Conheça a obra do escritor
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