Esta história sobre James Joyce (1882-1941) me foi contada há muito tempo. Antes do Google, antes da Inteligência Artificial. Só agora pude obter indícios de veracidade do relato. É o seguinte:
James Joyce tinha uma filha chamada Lucia, que apresentava comportamento bizarro e fortes sinais de perturbação mental. Por isso o gênio resolveu levá-la a um psicoterapeuta de renome, Carl Gustav Jung (1875-1961). Ele mesmo. O psicanalista que foi discípulo do próprio FREUD, mas que ousou romper com o Mestre.
Durante a consulta, Joyce teria descrito assim o quadro da jovem:
– Ela escreve em fluxo de consciência como eu, páginas e páginas, mas sem nexo ou talento!
Jung ficou intrigado, por isso entrevistou a moça separadamente. E depois de analisar cuidadosamente o caso, deu o diagnóstico de esquizofrenia, acrescido de um adendo meio lírico e muito sombrio:
– Sr. Joyce… O senhor e sua filha… Ambos estão imersos nas mesmas águas. Mas o senhor está nadando. Lucia está se afogando. 😮
O QUE DIZ A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL?
Sim, é verdade que James Joyce levou sua filha, Lucia Joyce, para consultar Carl Gustav Jung.
O que motivou essa consulta?
Lucia teve esquizofrenia, uma doença mental grave que afeta a capacidade de pensar, perceber a realidade e se relacionar com os outros.
O encontro de James Joyce com Jung:
Jung analisou a obra de Joyce e sugeriu que a escrita do autor, especialmente a obra “Finnegans Wake”, apresentava características que poderiam estar ligadas à doença da filha. E uma das frases mais conhecidas desse encontro é atribuída a Jung:
“Onde você nada, ela se afoga”.
Com essa frase, o psiquiatra quis dizer que, enquanto Joyce conseguia explorar e dar forma aos seus impulsos criativos através da escrita, Lucia não tinha a mesma capacidade, o que a levava a se afogar em sua própria mente (!)
Consequências da consulta:
Infelizmente, a consulta não trouxe uma cura para Lucia. Sua condição se agravou e ela passou o resto da vida internada em instituições psiquiátricas.
😢
UMA frase para começar a se interessar por Finnegans Wake:
“Having done the longest day in literature with his monumental Ulysses, James Joyce set himself even greater challenges for his next book — the night.”
MAS O QUE É “FINNEGANS WAKE”?
Publicado em 1939, “Finnegans Wake” é um romance experimental do escritor irlandês James Joyce. Seu estilo alusivo está entre um dos fatores que fazem da obra uma das mais difíceis da História da Literatura.
A recepção inicial de “Finnegans Wake” foi fortemente negativa. Alguns críticos manifestaram espanto diante da radical reformulação da linguagem apresentada. Outros ainda foram até mesmo hostis, apontando a aparente falta de sentido do livro como motivo para sua indignação.
Era quase como que se, ao desrespeitar convenções literárias, Joyce desrespeitasse os próprios literatos.
Sim, porque, apesar da língua do romance ser o inglês, é um inglês que Joyce modificou combinando e alterando palavras de muitas línguas, o que resultou em seu próprio idioma específico. Alguns estudiosos acreditam que essa técnica foi uma tentativa de reproduzir a maneira como memórias, pessoas e lugares são misturados e transformados quando sonhamos.
Apesar da densidade da obra, leitores e estudiosos de Literatura chegaram a um consenso sobre os personagens centrais do livro. Porém foi mais difícil para eles discernir qual seria a trama e obter qualquer tipo de acordo quanto a esse tema.
Afinal, de que trata “Finnegans Wake”? O livro fala da vida da família Earwicker, composta pelo pai HCE; a mãe ALP; e seus três filhos Shem the Penman, Shaun the Postman e Issy. Após um boato sobre HCE, o livro segue as tentativas de sua esposa de exonerá-lo com uma carta, a luta de seus filhos para “substituí-lo” como autoridade e se encerra com um monólogo de ALP ao amanhecer.
Para enfatizar sua inovadora estrutura cíclica, o livro termina com uma linha inacabada… Onde encontrar o fim da referida linha? No próprio fragmento com o qual a obra começou! O livro é um círculo. Ou seja, se você quiser, fica “preso” relendo a obra ad eternum.
Então, quem deveríamos internar? A filha Lucia? Seu pai? Jung? O editor que apostou nesse livro? Seus leitores através das décadas? Quem se dedica a estudar livros como esse? O autor deste texto? Ou todos nós?
Não há respostas fáceis, mas adoraria saber o que você pensa sobre tudo isso. Deixe seu comentário!
Sobre James Joyce
James Augustine Aloysius Joyce (1882 – 1941) foi um romancista, poeta e crítico literário irlandês. Ele contribuiu para o movimento de vanguarda modernista e é hoje considerado um dos escritores mais influentes e importantes do século passado. O romance de Joyce, “Ulysses” (1922), é um marco no qual os episódios da “Odisseia”, de Homero, são narrados paralelamente aos originais.
Para tanto, James Joyce lançou mão de uma variedade de estilos literários, principalmente o fluxo de consciência.
Outras obras importantes do autor são a coletânea de contos “Dublinenses” (1914) e os romances “Um Retrato do Artista Quando Jovem” (1916) e “Finnegans Wake” (1939). Seus outros escritos incluem três livros de poesia, uma peça, cartas e até algum jornalismo.
Joyce nasceu em Dublin em uma família de classe média. Estudou em colégios jesuítas e se formou na University College Dublin em 1902. Casou-se com Nora Barnacle e morou em diversas cidades da Europa Continental, incluindo Trieste (Áustria-Hungria), Roma e Zurique, onde se refugiou da Segunda Guerra Mundial e escreveu parte de “Ulysses”. Mudou-se para Paris em 1920, e esta foi sua principal residência até 1940.
“Ulysses” foi publicado pela primeira vez em Paris em 1922, mas sua publicação no Reino Unido e nos Estados Unidos foi proibida devido a alegações de “obscenidade”.
Cópias foram contrabandeadas para ambos os países e versões piratas foram impressas até meados da década de 1930, quando a publicação finalmente foi legalizada.
Joyce iniciou seu próximo trabalho, “Finnegans Wake”, em 1923, publicando-o dezesseis anos depois, em 1939. Nesse meio tempo, o autor viajou muito.
E uma curiosidade: Nora e ele só foram se casar em 1931, em uma cerimônia civil em Londres. Joyce viajou muitas vezes para a Suíça buscando tratamento para seus problemas de visão cada vez mais graves e ajuda psicológica para sua filha, Lucia. Quando a França foi ocupada pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, Joyce refugiou-se em Zurique, em 1940. Foi lá que o escritor faleceu, após uma cirurgia para uma úlcera perfurada, em 1941. James Joyce tinha então 58 anos.
“Ulysses” ocupa um lugar alto nas listas de grandes livros, e literatura acadêmica analisando o livro continua sendo produzida até os dias de hoje. Além disso, muitos escritores, cineastas e outros artistas foram influenciados pelas inovações estilísticas propostas por Joyce, como sua meticulosa atenção aos detalhes, uso de monólogo interior, trocadilhos e a ruptura com a maneira de engendrar tramas e desenvolver personagens que eram convenções literárias até então.
Embora a maior parte de sua vida adulta tenha sido passada no exterior, o universo ficcional de Joyce tem seu centro em Dublin. Não por acaso, a obra de Joyce está cheia de personagens que parecem com membros de sua família, inimigos e amigos com quem conviveu em sua terra natal. “Ulysses” em particular se passa nas ruas e becos da cidade.
A citação a seguir é atribuída ao escritor: “Eu sempre escrevo sobre Dublin, porque se eu puder chegar ao coração de Dublin, posso chegar ao coração de todas as cidades do mundo. No particular está contido o universal”.
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