Jorge Luis Borges: nomeado diretor de sua própria prisão

Jorge Luis Borges sempre soube que sua vida seria voltada para os livros. O que ele não imaginava era que, um dia, seria punido com eles.

Em 1946, com Juan Domingo Perón no poder na Argentina, Borges, que sempre fora um crítico do regime, perdeu seu emprego como inspetor de aves e coelhos no mercado central de Buenos Aires — um cargo modesto, mas que lhe garantia sustento.

O governo precisava de uma maneira “elegante” de afastá-lo da cena literária sem torná-lo um mártir.

Então, decidiram promovê-lo. Mas não a um cargo de prestígio. O famoso escritor e amante da literatura foi nomeado diretor da Biblioteca Municipal Miguel Cané, um posto burocrático sem qualquer relevância. Era uma punição velada: Borges passaria seus dias longe da universidade, sem poder lecionar ou publicar livremente.

O detalhe irônico? A biblioteca era um verdadeiro labirinto de corredores escuros e poeira — um reflexo vivo dos mundos que Borges tanto imaginava em sua ficção.

Ele próprio comparou o local a um destino kafkiano, onde sua mente era livre, mas seu corpo estava preso.

Uma imagem que nos remete ao universo de Borges. Fonte: Magic Studio IA

A humilhação não passou despercebida. Pouco depois, em um evento literário, a mãe de Borges — uma mulher de gênio forte — não se conteve e confrontou os oficiais do governo:

— “Meu filho foi promovido? Ah, sim, como se tivessem nomeado um cego para o cargo de olheiro!”

Isso é o que dizem os rumores. O certo é que, anos depois, quando o regime de Perón caiu, Borges foi novamente promovido. Mas, dessa vez, a um lugar que realmente merecia: diretor da Biblioteca Nacional da Argentina.

E o destino lhe reservou uma última ironia.

Na época em que assumiu o cargo, sua cegueira já estava avançada. Assim, Borges passou seus últimos anos cercado por milhões de livros… que já não podia mais ler.

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Borges. Fonte: https://shorturl.at/A4H77

JORGE LUIS BORGES: VIDA E OBRA

Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo, conhecido como Jorge Luis Borges, foi um renomado escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino. Sua vasta obra é marcada por temas como o tempo, o infinito, a realidade e a ilusão, explorados através de narrativas complexas e originais.

Nascido em Buenos Aires em 1899, Borges teve contato com a literatura desde cedo, influenciado pela biblioteca do pai. Estudou na Suíça e na Inglaterra, onde aprimorou seu domínio de línguas estrangeiras e se aprofundou em filosofia e literatura.

Após retornar à Argentina, Borges dedicou-se à escrita e ao trabalho como bibliotecário e professor. Sua produção literária se destaca pelos contos, nos quais mistura elementos da fantasia, do policial e do ensaio, criando um estilo único e inovador.

Entre suas obras mais conhecidas, destacam-se “Ficciones” (1944) e “O Aleph” (1949), coletâneas de contos que exploram temas como a natureza do tempo, a existência de universos paralelos, a relação entre realidade e sonho, e a busca pelo conhecimento.

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Borges também se dedicou à poesia, com obras como “Fervor de Buenos Aires” (1923) e “Luna de enfrente” (1925), nas quais expressa seus sentimentos e reflexões sobre a vida, o amor e a morte.

O reconhecimento internacional de Borges veio na década de 1960, com a tradução de suas obras para diversos idiomas e a concessão de prêmios literários. Sua influência na literatura contemporânea é inegável, inspirando escritores de diferentes gerações e países.

Além de sua produção literária, Borges era um intelectual engajado, com opiniões fortes sobre política e sociedade. Apesar de algumas controvérsias, sua figura é amplamente respeitada e admirada no mundo todo.

Jorge Luis Borges faleceu em Genebra, na Suíça, em 1986, deixando um legado de obras que continuam a encantar e desafiar leitores de todas as idades. Sua escrita, marcada pela erudição, pela originalidade e pela capacidade de despertar a imaginação, permanece como um marco na história da literatura.

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