Madame Bovary, de Gustave Flaubert

[Parque Municipal – Tarde de outono, árvores derramando folhas douradas, leve brisa no ar. Araújo já está sentado em um banco de madeira, ajeitando os óculos. Sabrina se aproxima pontualmente, sorrindo, um livro na mão.] *pode conter spoilers 

Sabrina:
(chegando)
— Professor Araújo! Que tarde linda, não é?

Araújo:
(levantando-se para cumprimentá-la com um sorriso)
— Uma das grandes vantagens de envelhecer: aprender a reconhecer a beleza do que é simples. Vamos sentar?

Sabrina:

— Claro. (sentam-se) Trouxe “Madame Bovary”. Depois daquela palestra sobre Flaubert, fiquei curiosa. Queria conversar com o senhor sobre isso.

Araújo:
(olha para o livro e assente, satisfeito)
— Excelente escolha, Sabrina. Gustave Flaubert, nascido em 1821 e falecido em 1880, criou em “Madame Bovary” uma obra que é muito mais que um romance de época — é um mergulho na alma humana.

Sabrina:
— Confesso que não estava preparada para a montanha-russa emocional que encontrei…
(olha para ele com curiosidade)
O senhor diria que essa é a marca principal do livro?

Araújo:
— Sem dúvida. Madame Bovary é um exercício atemporal de empatia e desapontamento.

À medida que viramos as páginas, somos levados para o mundo tumultuado de Emma Bovary — uma mulher dominada por desejos, desilusões e, por fim, pela própria ruína. Flaubert nos envolve nesse turbilhão com uma maestria de fazer inveja.

Sabrina:
— A ambientação também me impressionou. Eu realmente me sentia nas estradas poeirentas, nas casas abafadas…
Ele consegue isso só com descrições? Ou tem algo mais?

Araújo:
— Ah, minha jovem… Flaubert era um mestre das palavras. Através de uma prosa precisa e evocativa, ele não apenas descreve — ele transporta. Você sente o pó das estradas, o tédio sufocante da vida provinciana, a vertigem da paixão proibida.

É uma experiência sensorial completa.

[Ao redor deles, crianças brincam, casais passeiam de mãos dadas, cachorros correm soltos. Sabrina observa a cena, pensativa.]

Sabrina:
— Eu fiquei com sentimentos mistos em relação à Emma. Às vezes me sentia cativada, outras vezes, chocada com ela…

Araújo:
— E esse é justamente um dos grandes trunfos da obra. Emma é profundamente humana: suas tentativas de reconciliar uma visão idealizada da vida com a dura realidade são, ao mesmo tempo, fascinantes e dolorosas.

Flaubert não nos pede que a amemos incondicionalmente; ele nos desafia a compreendê-la — mesmo quando ela caminha para o abismo.

Sabrina:
— E os outros personagens? Como o senhor vê o papel deles?

Araújo:
— Bem observado. Flaubert não negligencia ninguém. Charles Bovary, por exemplo — o marido bem-intencionado mas entediante —, ou Rodolphe, o amante ardiloso e manipulador. Cada personagem contribui para a complexidade do drama, como peças de um intrincado mosaico.

Sabrina:

— Uma coisa que me chamou atenção foi como o livro fala de temas que ainda parecem atuais: as pressões sociais, a ilusão do romantismo…

Isso foi intencional de Flaubert?

Araújo:
— Com toda certeza. O romance é uma crítica ácida à vida provinciana e também um alerta sobre o perigo de se romantizar a existência. Além disso, aborda as consequências devastadoras do desejo desenfreado e da insatisfação crônica.

Flaubert captou a essência de uma tragédia que transcende o tempo.

[Uma jovem mulher passa de bicicleta com um lenço vermelho esvoaçando ao vento. Sabrina acompanha a imagem com o olhar, pensativa.]

Sabrina:
— Eu li que alguns leitores sentem tristeza e até uma sensação de perda ao terminar o livro. O senhor sentiu isso?

Araújo:
— Sem dúvida. Ao fechar “Madame Bovary”, é como se carregássemos conosco um luto silencioso. Mas também, uma imensa admiração pelo gênio de Flaubert.

O livro é um daqueles que nos assombra por muito tempo depois da leitura.

Sabrina:
— Professor… pra quem quer ser escritor… (sorri com timidez) que lições a gente pode tirar da escrita do Flaubert?

Araújo:
(olhando com carinho)
— Ah, essa é uma pergunta que vale ouro.

A principal lição é a importância da paciência e do rigor. Flaubert construiu cada frase como quem lapida um diamante.

Seu compromisso com a precisão, sua recusa a ceder ao sentimentalismo fácil, e sua habilidade de extrair grandeza do ordinário — tudo isso faz dele um mestre para quem deseja escrever com verdade.

Sabrina:
(suspiros)
— É lindo pensar nisso… embora pareça tão difícil.

Araújo:
— É difícil, sim. Mas também é sublime.

[Ao longe, Lucas, um aluno de primeiro ano e colaborador deste site, acena ao reconhecer Araújo e se aproxima, meio envergonhado.]

Lucas:
— Professor! Desculpa atrapalhar… Mas, se a história é tão antiga, o que faz “Madame Bovary” ser relevante até hoje?

Araújo:
— Boa pergunta, rapaz! A relevância está exatamente na sua capacidade de expor feridas que ainda são nossas: o vazio das aparências, a busca desenfreada por algo que nunca chega, o risco de deixar que os sonhos iludam a realidade.

Em “Madame Bovary”, a crítica à sociedade, às falsas expectativas e aos desejos não resolvidos continua absolutamente atual.

Lucas:
(sorrindo)
— Valeu, professor! Vou querer ler também.

[Lucas se despede, indo encontrar os colegas. Sabrina sorri para Araújo, que ajeita os óculos, satisfeito com o encontro.]

Sabrina:
— Sabe, professor… Essas conversas com o senhor fazem tudo valer mais a pena.

Araújo:
— E para mim, saber que existe gente como você e como o Lucas, atentos e sedentos de Literatura, também.

Sabrina:
(rindo)
— Vamos combinar outro encontro? Mas da próxima vez… quero ouvir o senhor falando sobre outro autor também!

Araújo:
— Combinado. Mas ao vivo, viu? Nada de conversa por mensagem.
(levantando-se)

O conhecimento e a amizade se alimentam melhor assim, à luz de uma tarde bonita.

[Ambos saem caminhando devagar pelo parque, entre folhas secas que estalam sob os pés.]

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SOBRE ESTA EDIÇÃO DO LIVRO:

“Responsável por levar Gustave Flaubert aos tribunais sob acusação de imoralidade, Madame Bovary ergueu-se junto de sua protagonista, dando origem a uma geração de personagens em busca de liberdade. Uma história que começa no “felizes para sempre” pode mesmo ser feliz? Após uma jovem sonhadora se casar com o médico da região, a realidade à sua volta se transforma: o que Emma Bovary encontra no matrimônio, longe das paixões emocionantes dos livros que lê, é uma rotina pacata e até tediosa. Inconformada e sedenta por aventuras românticas idealizadas, Emma começa a adoecer e não vê outra saída senão buscar as emoções que deseja ― por métodos que a sociedade conservadora ao seu redor não poderia compreender, muito menos aceitar. Publicado em 1857 em uma sociedade pouco voltada aos interesses femininos, Madame Bovary surge vanguardista com uma história sem culpados nem inocentes, reforçando o encantamento pelas idas e vindas da experiência humana, o desejo por pessoas, por sensações, pelo espaço urbano e, sobretudo, o desejo de ser desejada. Mais do que romper margens, Emma Bovary pretende ser absorvida. A edição da Antofágica conta com ilustrações de Maria Flexa, que dão um ar onírico a este clássico, além de nova tradução de Janaína Perotto, apresentação de Vivian Villanova e posfácios de Maria Rita Kehl, psicanalista e autora do livro “Bovarismo brasileiro”, Claudia Amigo Pino, professora de Literatura Francesa na USP, e Norma Telles, doutora em Ciências Sociais pela PUC-SP. EXTRA: Ao escanear o QR Code da cinta, o leitor tem acesso a duas videoaulas sobre o livro com Claudia Amigo Pino, professora de Literatura Francesa na USP. A primeira aula deve ser assistida antes da leitura, enquanto a segunda complementa a experiência do livro.”

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