Entrevista com o escritor Zuli Mencordas

Nossa entrevista com o escritor paulistano Zuli Mencordas foi no mínimo… Singular. Pra começar, ele não revela seu nome. Zuli é pseudônimo.

No entanto, seu modo de falar é passional e convincente.

[AO LADO: Estátua escolhida pelo autor para representá-lo.]

Vivendo numa era de fake news (“vão deturpar tudo o que eu disser mesmo…”), Mencordas também não diz a idade: “bota aí entre 21 e 110, que é como me sinto interiormente, conforme as oscilações da vida.” 

Seu novo livro, “FELICIDADE: débito ou crédito?” já mereceu post com vídeo e tudo AQUI. Veja primeiro, se preferir. Depois volte pra cá e divirta-se com sua mente afiada. O que, aliás, não impede que ele se autodeprecie, definindo-se como um homem “vintage e cheio de ideias ultrapassadas.” E que ideias são essas? Leia a seguir e descubra! 

Dicas de Livros: Quais suas influências literárias?
Zuli Mencordas: Música, antes de tudo. Letras de música. Não livros. E pintura. Eu gosto muito de Gauguin. Quando vi um quadro dele no MASP, quase chorei. Também havia lá um minúsculo Van Gogh, uma gracinha; e um selvagem Cezanne. A outra influência é a vida mesmo.

Uma dica aos jovens: vejam no YouTube todos os vídeos sobre Arte e Civilização do Waldemar Januszczak e do Matthew Collings. Sérião. Assistam!

Esses caras FALAM de um jeito literário. Confere lá que você vai me entender. Foram grandes influências pra mim.

E leiam graphic novels da pesada como MAUS, sobre o Holocausto, Watchmen e Daredevil “Born again”, que “diverte e educa”, como se dizia antigamente.

Dicas de Livros: Então você seleciona muito a literatura que consome?
Zuli Mencordas: Não sei. Os livros é que às vezes me selecionam e não se deixam ler por mim. Me trancam do lado de fora. Hoje, gosto do Rubem Fonseca; quando criança li tudo do Monteiro Lobato e muito Rudyard Kipling (Mogli, o menino-lobo). Gosto de Kafka, de Isaac Asimov, de Machado de Assis, de Borges e de Milan Kundera. Dentre tantos outros.

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Dicas de Livros: No meio da polarização política, é inevitável perguntar se sua obra contém algo de ideológico, mesmo que camuflado?
Zuli Mencordas: Zero. Transcendi a política. Política boa é viver bem com quem está ao alcance de seu abraço e olhe lá. Brigar entre nós mesmos – nós, o povo – só nos enfraquece. Nos divide. E isso interessa à gente má.

Aliás, por falar nisso, um autor que recomendo aos jovens é Paulo Francis, jornalista. Ele esteve em ambos os lados do espectro, foi de direita e de esquerda e nunca escondeu suas opiniões cáusticas sobre a humanidade, ao contrário, seu prazer era derramá-las sobre tudo.

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Por que isso importa? Importa porque assim o jovem de hoje que pende para o lado X ou Y pode ler diversas perspectivas do mesmo cara culto e inteligente… e constatar que é possível mudar de um lado pro outro também.

Dicas de Livros: Por que escrever num país em que se lê tão pouco?
Zuli Mencordas: Porque também faço minha parte: leio pouco, como todo brasileiro, ora! Haha! Na verdade, leio bem menos do que gostaria. Não há tempo pra tudo. E escrever pra mim é raro. O que me lembra William Blake: “criar uma florzinha é um trabalho que demora séculos!” Minha escrita é assim.

Pra me sair uma simples margarida, demoro cem anos escrevendo!

Dicas de Livros: Ler é importante? Por quê?
Zuli Mencordas: Há pessoas de boa índole e personalidade agradável que acrescentam muito às suas qualidades naturais pelo fato de lerem livros. Sua conversa se enriquece, ficam interessantes. Isso é ótimo. Por outro lado, há paspalhos que se tornam um poço de arrogância porque leram uns livrinhos.

Então, ler ou não ler, eis a questão? Não importa. Importa é não ser um mala.

Dicas de Livros: O cinema também o influencia de algum modo?
Zuli Mencordas: Tive uma fase boa de cine “retrô” só pra me apaixonar por atrizes bonitas, Ava Gardner, Kim Novak, Catherine Deneuve… Mas já passou. Sou meio volúvel.

Dicas de Livros: O quanto é real e o quanto é fantasia nos seus textos, já que você  transita tão bem de um lado para o outro?
Zuli Mencordas: “A regra é clara”, como dizia aquele sujeito lá: quanto mais louco parecer, mais foi baseado na minha própria vida. E aquilo que parece banal é só fantasia da minha cabeça, nunca aconteceu.

Dicas de Livros: Um livro que admira?
Zuli Mencordas: “Admirar” é o termo mesmo. Acima de todos os outros, “Admirável Mundo Novo”. Ali, Huxley criou um mundo. Ou melhor, um universo coeso. E nesse universo, o “selvagem” é um sujeito que ama Shakespeare. Quer dizer, o contraponto à civilização “esterelizada”, “funcional”, “voltada para resultados” (KKKKK!!), “asséptica” é a “selvageria” de sentimentos, o vigor das palavras shakespearianas!

É perfeito demais. Lindo demais. E realista demais, algumas vezes.

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Dicas de Livros: Um livro do qual não gosta?
Zuli Mencordas: A Montanha Mágica, de Thomas Mann. A obra permanece inexpugnável para mim. Tentei lê-lo aos 20 anos, aos 51 e tentarei novamente um dia, mas ela não se deixa escalar por mim.

Dicas de Livros: O que gostaria de ter escrito?
Zuli Mencordas: Um bilhete para uma menina loira de olhos azuis que leu os textos da primeira comunhão alternando comigo diante de todos na igreja, em São Paulo, no ano de 1984. Eu tinha apenas onze anos, mas devia tê-la convidado para sair. Tomar uma Coca-Cola, sei lá.

Dicas de Livros: Um arrependimento, fora esse?
Zuli Mencordas: Ah, lembrei disso agora, porque citei o ano: 1984. Eu devia ter falado do livro. Fiquei arrependido. Então vamos lá: aquilo não é um livro, é uma surra! O espetáculo tenebroso da desumanização total, do esmagamento de tudo o que somos, da nossa alma, até não restar mais nada.

Talvez seja, no fundo, a história de horror mais abominável já escrita. É um livro horrendo, mas perfeito.

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Dicas de Livros: Quase acabando: você é dos que veem o copo meio cheio ou meio vazio?
Zuli Mencordas: Sinceramente? Pra mim o copo já quebrou faz tempo.

Dicas de Livros: Um sonho?
Zuli Mencordas: Eu tinha um sonho, que não poderei realizar mais. Queria ir ao programa do falecido Abujamra (que Deus o tenha) só pra ele me perguntar: “O que é a vida, Zuli Mencordas?” E eu responder: “Um desconforto passageiro”.

Dicas de Livros: Pra terminar, um conselho para um jovem escritor?
Zuli Mencordas: Jovem escritor: estude para concurso público. Se esse conselho serviu para Carlos Drummond de Andrade, talvez também sirva para você.

SINOPSE + TEASER DO LIVRO DE ZULI MENCORDAS AQUI

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