“A última pergunta”©, de Isaac Asimov, foi publicado em 1956. Seu enredo prevê coisas como internet e Inteligência Artificial. Dizer que é o mais genial conto de ficção científica que já li seria injusto, simplesmente porque não li todos os contos do gênero. Mas você… Ou alguém que leu todos… Absolutamente TODOS. Por favor, comente lá embaixo na área apropriada. Ao menos reconheça que este aqui é uma obra de primeira grandeza. Eu acredito que é. Ah, sim, outra coisa: chamar o autor de “visionário” seria pouco. Profeta? Vidente? Oráculo? Não sei. Também parece pouco. Por ora, GÊNIO. Assim, com tudo em maiúsculas. Sigamos, pois.
O contexto: graças à criação de um gigantesco computador chamado Multivac (naquela época, a concepção desse tipo de aparato era sempre mais para o gigante, depois tudo que é tecnológico foi encolhendo), a humanidade evoluiu rápida e confortavelmente. Digo confortavelmente porque há tempo para o ócio. Tanto que, no dia 21 de maio de 2061, dois funcionários de manutenção do computador, depois de tomarem umas biritas, passada aquela euforia etílica inicial que tantos conhecem, começam a ponderar sobre temas mais sombrios.
É que durante décadas o Multivac tinha criado naves e trajetórias que levaram a humanidade à Lua, Marte e Vênus, mas… Os recursos limitados da Terra estavam acabando.
O que não era um problema imediato. Os seres humanos estavam usando luz solar para tudo, aproveitando ao máximo essa energia. Estocar, converter e aplicar a energia em escala global. O sistema perfeito! Mas nada é perfeito. Nem nos contos, muito menos na vida.
Por isso, o mais esperto dos técnicos do Multivac (ou o menos bêbado), argumentou:
“Tudo começou com o Big Bang, seja o que for que tenha sido aquilo, e tudo vai acabar quando todas as estrelas se esgotarem. Algumas apagam mais rápido do que outras. As gigantes não duram nem cem milhões de anos. O Sol vai durar vinte bilhões de anos e talvez as anãs durem cem bilhões. Mas daqui a um trilhão de anos, tudo estará escuro. A entropia tem que aumentar até o máximo, é isso.”
OK, o Bing Bang você já conhece; pelo menos de nome, tinha até sitcom com esse título. Mas o que é entropia?
Isaac Asimov e a entropia
Entropia é uma medida de desordem ou aleatoriedade em um sistema. Ela indica quanta energia em um sistema está indisponível para realizar trabalho. Em termos simples, quanto maior a entropia, mais caótica e dispersa está a energia do sistema. E sim, a tendência do universo, acreditam cientistas, é que ele se torne cada vez mais desordenado.
É mais ou menos assim: imagine que tudo no universo está tentando se espalhar e se tornar mais desordenado. Essa tendência para a desordem é a entropia. É como um quarto ficando cada vez mais bagunçado com o tempo, mas em uma escala um pooouuuquinho maior.
Em outras palavras:
- A entropia é uma medida da desordem em um sistema.
- Quanto mais desordenado um sistema, maior sua entropia.
- A entropia sempre tende a aumentar com o tempo.
- A morte térmica do universo (isso dá medo, não dá?) é a hipótese de que o universo acabará em um estado de máxima entropia, quando toda a energia estiver uniformemente distribuída.
Exemplos de entropia:
- Um cubo de gelo derretendo em um copo de água;
- Uma xícara de café quente esfriando em um ambiente frio;
- Uma pilha de livros caindo no chão…
- A expansão do universo. 😱
Certo. Agora volte um pouco até o que o moço disse e preste bem atenção: “Daqui a um trilhão de anos, tudo estará escuro.” Hã? Bem, é assustador. Mas não muito, né? Um trilhão de anos! Isso não deveria preocupar ninguém. Mas acontece que preocupa. Por isso temos este belíssimo conto em mãos: ele é sobre a preocupação com isso. Vamos em frente!
O que acontece com a humanidade tendo um Multivac desses na mão é que ela vai durar muito mais do que o esperado… porque o computador está sempre evoluindo! E ajudando a raça humana a superar todos os desafios. Então, um trilhão de anos já não parece tão distante!
Isaac Asimov e a morte térmica do universo
Primeiramente, a morte térmica do universo (também conhecida como Grande Congelamento) é uma hipótese sobre o destino final do universo que não implica necessariamente em uma temperatura específica, porém que poderá ocorrer quando o universo eventualmente alcançar o equilíbrio termodinâmico.
Em resumo – porque haja livro de física pra entender tudo isso! – com o passar de um longo período, o universo irá se resfriar até se aproximar do equilíbrio em uma temperatura muito baixa. Sem estrelinhas e sem energia. E aí? Pois é! Como fica a vida sem estrelinhas para lançar luz sobre as criaturinhas nos planetas?
O funcionário lá do Multivac do Asimov resolve então perguntar sobre esse futuro tenebroso para a mente mais esperta do mundo. E manda:
“A humanidade algum dia, sem gasto líquido de energia, será capaz de rejuvenescer totalmente o Sol, mesmo depois que ele morrer de velhice?”
[Pô, eu não entendo nada de física, mas isso não é meio como perguntar se dá pra reacender uma lareira usando só as cinzas que sobraram?]
Acho que o cara pensou nisso, porque simplificou a pergunta:
“Como a quantidade total de entropia do universo poderia ser reduzida drasticamente?”
Então, Isaac Asimov relata que o Multivac ficou estranhamente silencioso e inerte. O lento piscar das luzes acabou, os sons distantes de cliques e “claques” se encerraram.
Em seguida, quando os técnicos estupefatos achavam que talvez tivessem feito alguma grande besteira, o emissor de texto conectado àquela parte do Multivac voltou à vida subitamente. Seis palavras foram impressas:
DADOS INSUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.
Por essa NINGUÉM esperava. Quanto tempo, então, até o cálculo, os dados, as informações necessárias para uma resposta? É aí que Asimov usa de toda sua genialidade para nos mostrar a evolução vertiginosa da raça humana atingindo outros planetas e até outros estados de consciência. É uma coisa maravilhosa!
No entanto, um probleminha persiste: o que vai acontecer quando a luz inteira do universo apagar?
Aliás, alguém, em algum lugar do cosmos, conectado às avançadíssimas novas gerações de Multivac sempre faz essa pergunta ao longo dos milênios. E invariavelmente obtém a mesma resposta:
DADOS INSUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.
E agora?
Asimov e a última resposta
Calma, leitor, não fique desapontado. À primeira vista, pode parecer que você leu tanto e não chegou a lugar algum! Mas é que aqui não trabalhamos com spoilers! A resposta final chega e é obra de gênio. Só de pensar – eu que já devo ter lido esse conto dez vezes – fico arrepiado! Dá só uma olhada na capa: https://amzn.to/3LZPiHo
Concluindo, guardo esse prazer para você, não contarei mais nada. Apenas compre seu exemplar de “Robot Dreams” e fique encantado. Depois volte aqui e comente apenas: “Você tinha razão! Isaac Asimov é genial!”
Quem foi Isaac Asimov?
Isaac Asimov (Petrovichi, Rússia, 2 de janeiro de 1920 — Brooklyn, 6 de abril de 1992) foi um escritor e bioquímico russo-americano, renomado por suas obras de ficção científica e divulgação científica.
Reconhecido como um dos mestres da ficção científica, junto com Robert A. Heinlein e Arthur C. Clarke, Asimov é famoso pela Série da Fundação, que se integra à série do Império Galáctico e à Série Robôs. Além de ficção científica, escreveu mistérios, fantasia e uma vasta quantidade de obras de não-ficção, totalizando mais de 500 volumes e cerca de 90.000 cartas ou postais.
Seus livros populares de ciência explicam conceitos científicos com uma abordagem histórica, incluindo informações sobre os cientistas envolvidos e etimologias de termos técnicos. Entre seus trabalhos destacados estão “Guide to Science”, os três volumes de “Understanding Physics” e “Chronology of Science and Discovery”, além de livros sobre Astronomia, Matemática, a Bíblia, Shakespeare e Química.
Em sua homenagem, um asteroide foi nomeado 5020 Asimov em 1981. O robô humanoide “ASIMO” da Honda pode ser considerado uma homenagem indireta a Asimov, devido ao trocadilho linguístico com o nome do robô.